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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Há 3 anos, foi assim…

Eram quase 2 da manhã quando a tua Mãe me acordou e me disse que tinha a impressão que as águas se tinham rebentado. Com calma, arranjámo-nos, peguei na mala que ela tinha arranjado e lentamente fomos para o carro. O carro ainda era o antigo Alfa Romeo 145 Junior (o melhor carro que me passou pelas mãos) e ainda bem que era esse porque deu para a tua Mãe ir confortavelmente deitada por cima de umas toalhas para não molhar o assento. (a tua Mãe é assim, pensa sempre nestes pormenores)

Pelo caminho, ligámos às tuas Avós para avisá-las que íamos a caminho do Hospital. Acredito que tanto uma como outra devem ter tido dificuldade em continuar a dormir.

Chegámos às urgências por volta das 3 da manhã. Dirigimo-nos ao guichet e dada a condição da tua Mãe, fomos rapidamente atendidos. Julgo que foi uma enfermeira que nos atendeu, e foi ela que observou em que condições estava a tua “casita”. Deu umas toalhas e uma bata verde à tua Mãe e disse para ela ir tomar um duche quentinho, que relaxasse e depois que iríamos subir para uma sala de parto.

Subimos de elevador, e pela primeira vez separámo-nos ao chegar às portas que davam acesso às salas de parto. Eu fui por um outro corredor onde existiam uns cacifos onde eu podia guardar os meus pertences, e onde teria que vestir uma bata verde e calçar uns protectores de plástico. Agarrei nos chocolates que trouxe e guardei-os logo na prateleira do cacifo, não me fosse dar fome, pois fui avisado pela fisioterapeuta que nos acompanhou que a maior parte dos desmaios por parte dos Pais que assistem ao parto deve-se a estarem de estômago vazio.

Entrei no quarto e já te estava a ouvir ligado a um monitor de batimentos cardíacos. É impressionante o que senti nessa altura e ainda agora sinto enquanto escrevo estas palavras. A tua Mãe já estava deitada numa cama enorme, pronta para dar à luz. A mesma enfermeira apareceu no quarto e disse que a dilatação estava muito lenta e portanto, o melhor seria descansarmos e tentarmos passar a noite e de manhã logo se veria como estava a situação.

Digamos que foi… a pior noite que passei, mas não foi pelo nervosismo ou coisa que o valha, mas sim pela falta de conforto que senti. Isto porque me deram uma cadeira (tipo aquelas antiguinhas da escola) para dormir. Não consegui tal feito, tal era o desconforto. A enfermeira ainda lá voltou com um cadeirão melhorzito, mas dormir foi algo que não aconteceu comigo. Estava ainda encarregado de dar umas borrifadelas à tua Mãe para que ela não sentisse tanto calor, por isso, acho que nunca iria pregar olho de qualquer maneira.

De manhãzinha, aparece no quarto a tua Tia A. que me mandou logo ir tomar o pequeno-almoço. Lá nos separámos mais uma vez, indo eu ao bar comer um belo do croissant com fiambre acompanhado dum galão, acabando num pastel de nata com café.

Eram quase 10 horas quando voltei ao quarto e já estava outro médico com a tua Tia, e ela disse-me que tinha muita pena mas que eu não iria poder assistir ao parto porque iria ser necessária uma cesariana.

Fiquei mais um pouquinho convosco, enquanto o pessoal médico ia preparando a sala. Saí do quarto eram quase 10:30 e fui para a sala de espera.

Foi a maior espera da minha vida. A ansiedade aumentava a cada minuto apesar de não me sentir muito nervoso, estava constantemente a olhar para o relógio e a pensar em vocês. Estaria tudo a correr bem? Não é suposto a operação ser rápida? Porque é que ninguém me diz nada?

Eram 11:50 quando, vinda das portas das salas de parto, uma voz chamou pelo meu nome. Levantei-me e quando me aproximei da enfermeira, ela disse-me: “Venha ver o seu filho.”

Foi (e é) a cena mais bonita que guardo na minha memória. Ao ver-te, tudo me pareceu parado no tempo, e a única coisa que disse para mim mesmo foi “és tão bonito… filho”. Só queria saber da tua Mãe, se estava bem, se tinha corrido tudo bem, ao que me responderam que sim.

Ainda estavas todo sujinho, e as enfermeiras quiseram levar-te para te limpar e tratar. Despedi-me de ti com um “Até logo, filho” e perguntei quando poderia ver a tua Mãe. Disseram-me que ela iria para o recobro e que só dali a uma hora é que a podia visitar.

Saí e aí sim… todo os nervos que tinha aguentado até então, surgiram-me de repente e quanto peguei no telemóvel para falar com a tua avó G. mal conseguia falar, atropelava as palavras todas e não se percebia nada. A única coisa que me sáia era: “Ele é lindo, Mãe.” e “Está tudo bem, e correu tudo bem.”. O mesmo disse à tua outra avó, e ambas já se estavam a preparar para virem ver-te.

Foi assim há 3 anos. Parabéns, meu filho!

-BL

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