Estive a ver, na RTP 1, um documentário intitulado "A voz da Saudade" que trata a história de uma Senhora de Santarém. Durante 7 meses, ela percorreu mais de 18.000 km pelo mato e pela floresta de Angola para levar a 1200 soldados (do seu distrito) mensagens gravadas de familiares. Maria Estefânia Anachoreta era seu nome.
Sei que este documentário já tinha sido transmitido em Abril, mas só hoje (e por um acaso) é que o vi. Fiquei a conhecer a história da vida desta Senhora, que apesar dos seus 87 anos, ainda continuava com o sentimento de ajuda ao próximo. Foi nesta idade que ainda percorreu mais uns km's para dar a ouvir aos soldados que combateram na Guiné, as ditas mensagens, uma vez que foi proibida de ir a esse país, pelo General Spínola.
No documentário, ouvem-se testemunhos (e agradecimentos) de soldados, pessoas ligadas ao Movimento Nacional Feminino (ao qual ela pertenceu), festas de agradecimento, etc. No fundo, ouve-se e vê-se e até se sente a história desta Mulher.
Além de ter pertencido ao MNF, também pertenceu durante 30 anos à Liga Portuguesa contra o cancro. Trabalhou durante uma década como bibliotecária e nunca ganhou nada pelo que fez, e chegou a ter que vender bens seus para conseguir levar a sua obra a bom porto.
Houve uma história que me ficou retida que é a seguinte: Numa das vezes que a senhora se deslocava no seu carro (um Opel Corsa antiquíssimo, e sim, apesar da sua idade, ela ainda conduzia!) a caminho de mais uma visita a um ex-combatente, o carro teve um furo. Ela encostou o carro e ficou a olhar para ele e a pensar como é que iria resolver a situação, uma vez que não tinha força para colocar o macaco debaixo do carro e trocar o pneu. Foi então, que apareceu um senhor de mota e que lhe perguntou o que se passava. Ela explicou e ele trocou-lhe o pneu. No final, ela pergunta-lhe quanto é que lhe deve, e ele diz que não deve nada. Ela persiste e diz-lhe que aceitasse pelo menos o dinheiro para uma cervejinha. Ele volta a negar e diz-lhe "Eu não lhe pedi nada quando a senhora foi a Angola dar-me a ouvir a mensagem da minha Mãe", montou-se na mota e segundo a senhora, ela nunca mais lhe pôs a vista em cima.
Conta as suas histórias dizendo que os seus Pais, as suas sobrinhas e a sua familia, por mais alegria que lhe tenham dado, nunca superaram a alegria que sentiu quando estava em Angola.
No final do documentário, fiquei a saber que ela faleceu a 9 de Janeiro de 2008 com 89 anos. A imagem da senhora com o seu gravador deve ter ficado para sempre na memória de todos os que foram tocados pela sua pessoa.

Há histórias e Histórias de vida... e esta é sem dúvida uma História!
Links:
http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/042636.htmlhttp://aerodromobase3.blogspot.com/2008/05/dona-maria-estefnia-anachoreta.htmlApós ter visto o programa, senti que tinha que lhe prestar homenagem.
- BL